Com a prisão do médium João de Deus, resultado de uma ação de investigação promovida pelo Ministério Público de Goiás em conjunto com a Polícia Civil, devido às acusações de centenas de mulheres que alegaram ter sofrido abuso sexual na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia de Goiás, a renda de outras denominações religiosas naquele município também deve ser afetada.
É um efeito dominó na economia de uma cidade que tem como principal renda o turismo religioso espírita, liderado pelo médium João Teixeira de Faria, 76 anos, conhecido no Brasil e em vários países por João de Deus.
Há poucos comércios em Abadiânia de Goiás que não recebe benefícios diretos ou indiretamente do turismo espírita na cidade, inclusive outras denominações religiosas, como as tradicionais igrejas evangélica e católica. Negar tal hipótese seria o mesmo que negar a própria existência do médium mais famoso no Brasil, que hoje está preso e deve ser julgado por seus supostos crimes de abuso sexual, caso sejam comprovados.
O turismo religioso em qualquer das denominações ou crença acaba beneficiando toda uma rede de comércios e setores da economia, ainda que indiretamente. O mesmo dinheiro que entra nos cofres de um centro espírita acaba também entrando no cofre de uma igreja evangélica, católica e outras.
Neste teor, a prisão do médium João de Deus deverá interferir na economia de todas as denominações religiosa propriamente dita, em Abadiânia de Goiás. É uma questão puramente técnica, e cuja verdade não pode ser negada, mesmo pelos mais cautelosos líderes religiosos.
João de Deus é considerado um ícone dentro do espiritismo no Brasil, desde quando foi chamado para desenvolver sua mediunidade, quando tinha ainda nove anos de idade, diz.
O médium diz que incorpora o espírito de um padre jesuíta morto no ano de 1556. Cerca de 80% dos frequentadores da Casa Dom Inácio de Loyola são estrangeiros, o que movimenta Abadiânia com dinheiro vindo do exterior, e que é empregado na economia local, desde a construção de casas para turistas, até no aumento da renda dos pequenos comerciantes.
Não há aproximação entre o espiritismo e outras denominações religiosas, principalmente entre os cristãos evangélicos e os praticantes do espiritismo, porém, como descrito, a dependência econômica entre ambas as práticas religiosas acontece naturalmente e de forma indireta por meio das transações comercial local.
O mesmo pode acontecer quando uma determinada denominação evangélica, por exemplo, pode atrair turistas para uma cidade, o que acaba alimentado toda a rede comercial de uma localidade, incluindo as ações das entidades espíritas e outras religiões, como é o caso aqui exemplificado.
Izaías Sousa
Historiador e Articulista