O mercado da segurança privada e corporativa vem crescendo mesmo em um mercado cuja economia em declínio ameaça todos os setores empresariais. Desde seu reconhecimento e regulamentação por meio da Lei nº 7.102/83, o setor é um dos que mais emprega no Brasil — e também é visto como um indicativo do índice de criminalidade, já que a contratação de serviço de segurança privada é um termômetro que norteia os gestores públicos nos programas de segurança de atribuição do estado.
Com o novo Estatuto da Segurança Privada, houve significativas mudanças para o setor, sendo uma delas a escolaridade mínima para o vigilante, que antes deveria possuir no mínimo a 4ª séria do ensino fundamental, sendo que agora é exigido o ensino fundamental completo para o exercício da função.
Outra mudança foi regulamentação da segurança eletrônica, que até então não constava na legislação específica, além do reconhecimento da figura do supervisor de segurança e do gestor de segurança, dentre outras.
Mas, legislação a parte, com o cenário nada promissor na segurança pública como dever do estado e direito de todos, conforme o art. 144 da Constituição Federal (CF), o mercado da segurança privada parece não ter crise, haja vista que o cidadão comum e as empresas veem na obrigação de pagar por um serviço de proteção frente à inércia do estado, que tem como dever manter a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Existe hoje no Brasil cerca de 452 mil vigilantes particulares, número superior ao de policiais militares, ou seja, um verdadeiro exército de prontidão a serviço da sociedade, para os que podem pagar, é claro!
Vender segurança é um mercado promissor no Brasil, onde a demanda por tal serviço reflete o abandono dos governos em policiamento ostensivo, descaso que se estende até às policias judiciárias investigativa, cujo serviço de inteligência também não recebe investimento para a complementação e integração entre os órgãos de segurança pública.
Dentre os serviços mais requisitados na segurança privada está o vídeo monitoramento, sistemas de alarmes e controles de acessos, sendo estes serviços oferecidos tanto para empresas quanto para residências.
A segurança de transporte de cargas e a segurança pessoal também tende a seguir no mesmo ritmo de crescimento, já que o transporte de cargas precisa de serviço de escolta armada para proteger o bem até sua entrega, e cujas viagens muitas vezes são interrompidas por quadrilhas de roubo de cargas, representando um prejuízo enorme para as distribuidoras.
Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, o roubo de carga custou R$ 6,1 bilhões ao Brasil em seis anos, entre 2011 e 2016.
Não há alternativa viável para nossa proteção e de nossos bens, se não, investir em medidas de segurança, rotinas e projetos que cabe no bolso, já que não podemos confiar na segurança promovida pelo estado e em seu aparato, comprometido por falta de investimento governamental. O caos na segurança pública é a engrenagem que alavanca o crescimento da segurança privada, e cujo preço quem paga somos nós.
Izaías Sousa
Graduado em História; Articulista e Especialista em Segurança Pública