A cadeia pública de Jaraguá vem sendo manchete em Goiás por sua precariedade, sendo uma obra construída em 1970 para abrigar cerca de 20 presos, porém, a cadeia tem hoje mais de 230 detentos divididos em pouco mais de oito celas.
Na última sexta-feira (27), 20 presos fugiram da unidade prisional após um grupo de pessoas invadirem a cadeia, renderem os vigilantes e resgatar dois homens que haviam sido presos por tráfico de drogas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal).
As fugas são constantes, incluindo o método de cavar túneis, ação que em menos de 30 dias facilitou a fuga de outros dez detentos da mesma unidade prisional.
Nesta quarta-feira (27), o detento Elimar Moreira Cunha foi morto degolado no pátio do banho de sol por outros presos, cujas circunstâncias e motivos estão sendo investigados pela Polícia Civil.
Após o episódio envolvendo a morte do detento por decapitação, sendo este o primeiro caso ocorrido na cadeia de Jaraguá, a advogada Flávia Mendanha, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem, usou as redes sociais para falar sobre o ocorrido.
Segundo a advogada, o que é mais grave são as facetas dos problemas: decapitar um ser humano é mais que matar, significa a falência de valores primordiais, daí você pode me perguntar sobre os valores de “bandidos”? Basta olhar a falta de reação da sociedade, quem comentou? Os adversários, o jornalista e o todo; cadê as igrejas, os vereadores, o prefeito, cadê?.
Seguindo o comentário, a advogada fez outros questionamentos, como segue:
O que perdemos, acabou? Não, tem outra faceta: a falsa ideia de que é culpa só do Estado pela falta de segurança ou da justiça. A culpa começa quando abandonamos a fé; quando deixamos de colocar nossos filhos nas escolas; quando o governo não investe em educação; quando eu fecho os olhos para as escolas públicas e matriculo meus filhos na escola particular; quando as pessoas não acreditam mais nas famílias…são vários pensamentos, disse.
A produção perguntou a advogada sobre vários aspectos que envolvem a segurança pública e prisional.
Jaraguá Notícia — Como advogada, a senhora comenta sobre os fatos com o olhar de uma defensora, e ao mesmo tempo como uma mãe de família? A senhora pede mais ações de outros órgãos de classe, como Câmara de Vereadores, Igrejas, Prefeitura e outras, mas, o que diz sobre a ausência do Estado nas ações de segurança pública em Jaraguá?
Flávia Mendanha
Não posso generalizar em dizer que as demais instituições não fazem a sua parte, já que é evidente que, especialmente a igreja, com a propagação do Evangelho, faz muito, o que eu digo é sobre exatamente isso: silêncio. Eu, por muitas vezes, fico me perguntando o porquê da falta de investimentos por parte do Estado, já que é sua obrigação constitucional, esclarecendo que não é competência exclusiva, e sim concorrente entre os três poderes.
Talvez diante da situação façamos a leitura errada, uma vez que não se trata apenas da notória ausência de investimentos na segurança pública em Jaraguá por parte do Estado.
A leitura correta é o que eu penso sobre as opções nas políticas públicas deste país, que são formuladas e fomentadas para enganar e satisfazer uma grande parcela da sociedade com migalhas de saúde, educação, segurança, asfalto, comida etc. Na contramão existe uma parcela de brasileiros que estão cansados desta política que se reinventa para corromper, cansados da politicagem barata, das propagandas, enfatizou.
Morte de preso e comportamento social
No parecer da advogada, o caso da decapitação de um detento na cadeia de Jaraguá não despertou o interesse das instituições de classe e representativas sobre os valores sociais, da família e das pessoas, considerando o fato um absurdo, e que precisa de uma conduta mais precisa de cada cidadão de bem e das autoridades que os representam.
Relatório de Direitos Humanos
Por outro lado, advogados de Jaraguá, por meio de uma comissão podem preparar um relatório nos próximos dias e que será encaminhado à presidência da OAB/GO na pessoa de Roberto Serra para apreciação, no sentido de que a Subseção da OAB de Jaraguá possa, por meio de sua representante legal na comarca, ter um parecer sobre o caso ocorrido em Jaraguá, prezando não somente pela liberdade de corpo, mas também de alma.
Segundo Flávia Mendanha, ela não responde pela pessoa da Presidente da OAB em Jaraguá, porém, ela fala como integrante do Conselho Estadual da OAB.
A produção do Jaraguá Notícia entrou em contato com Roberto Serra, mas, até a publicação da matéria o mesmo não havia retornado o contato.